Eu quero compartilhar algo hoje com vocês. Talvez isso ressoe dentro de ti. E eu adoraria saber se vocês tiveram uma experiência semelhante.
Então, vou começar bem no início da estória, que me assombra até hoje, e embora eu tenha feito um processo sobre esse evento, por algum motivo ele ainda permanece dentro de mim, 23 anos depois... talvez seja hora de fazer um auto-encontro na minha próxima sessão de supervisão...
Quando eu tinha 22 anos, no início do meu segundo ano na Universidade Hebraica em Israel, colegas e outros amigos estavam sentados no gramado, numa manhã perfeita de outono. Eu estava falando com entusiasmo (alto) e provavelmente contando piadinhas e dando um dos meus famosos ‘shows’. Isto foi depois das férias de verão e fiquei contente por vê-los, sabendo naquela época já me tinha retirado desse grupo, pois não me sentia bem-vinda. Resumindo a estória, um suposto ‘amigo’, com quem eu costumava compartilhar caronas ao trabalho e estudar por um longo ano ou mais, tornou-se pra mim e disse: "Aline, por que você tem que ser tão animada e tão entusiasmada o tempo todo?”… Um silêncio caiu sobre o grupo. Senti que sua ‘acusação’ já foi compartilhada entre eles e já se falava entre aquelas pessoas, muito antes de ele me apresentar la, naquele fórum.
Naquele instante me senti tão humilhada. E uma onda de vergonha me lavou.
Desde aquele momento, algo desligou dentro de mim. Senti que toda a minha existência era demais para as outras pessoas ao meu redor. Ser quem ou sou - era demais. Então me tornei mais quieta, eu fiz de tudo para me reduzir perto dos outros e obviamente tentei evitar esse "amigo" e seu grupinho. Devo admitir que levou quase um ano para sair daquele ‘choque’. E como eu disse, ainda perdura.
Por que estou contando essa estória? Bem, porque podemos olhar para este caso e entender a dinâmica das estratégias de sobrevivência que funcionam aqui. Tenho certeza de que esse tipo de reação acontece o tempo todo em diferentes situações em nossas vidas. Então, por que somos "desagradáveis" e diminuímos para outros ao nosso redor? Por que Fábio (nome não real, mas bem próximo), se viu provocado e alarmado pela minha vitalidade? Por que as pessoas acham a alegria irritante? Sabemos agora que essas reações vêm de um profundo sentimento de rejeição e de uma infância sem amor. Também vem de uma linha ancestral sem amor que mantemos em nós os padrões daqueles antes de nós.
O que acontece com uma criança que foi criada em um ambiente sem amor? O que acontece com uma criança que nunca poderia explorar e experimentar seu desejo pela vida? Uma criança que não pode viver e expressar a sua essência vital? Criança que sempre é dita para "conter-se" "comportar-se" "ficar quieto" "não fazer barulho" "não ser infantil”…. Essas crianças se tornam adultos ‘responsáveis’ que transmitem esses mesmos padrões, comportamentos e compreensão do mundo para os outros ao redor, e com certeza para seus filhos. (Eles geralmente se casam com seu tipo de "mãe", que controlará todos os aspectos de suas vidas, julgará a maneira como se vestem, a quem encontram, o que bebem. Vai obedecer e fazer tudo que outros esperar deles sem questionar efeitos, vai denunciar outros que não encaixam nas normas deles).
Não podemos estar 100% bem 100% do tempo. Ficamos muito ‘ativados’ psicologicamente durante o dia, por tanto reagimos muitas vezes dessas partes ’sobreviventes’. Minha felicidade, sonoridade, alegria e vitalidade desencadearam algo profundo na psique de Fábio. Seu próprio sofrimento e rejeição. Talvez ele não tivesse permissão para expressar sua própria força vital quando era criança. Talvez sua mãe não pudesse amá-lo quando ele representasse sua 'vitalidade'.. e naquele momento, quando eu me senti tão contente - ele explodiu de dor. Minha reação foi diminuir-me de volta a um lugar conhecido de inexistência, onde eu não posso ser eu. Não posso existir. Como eu nao podia desde o momento da minha concepção… O Fábio desencadeou algo tão profundo e me deixou me sentindo 'nua' na frente daquele grupo.
Hoje eu posso ver isso e segurar meu eu rejeitado com amor. E com muita compaixão, e gritar bem alto, que todos ouçam:
EU NUNCA VOU PEDIR DESCULPAS POR ESTAR EXISTIR E SER!
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